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 DEL: Distúrbio Específico de Linguagem

por Dra Vanessa M. Franchi e Dra Monica Simons Guerra

1) O que é Distúrbio Específico de Linguagem – DEL?

    O DEL é caracterizado por dificuldade na aquisição e no uso da linguagem. A criança tem dificuldade em compreender ou produzir palavras e frases durante uma conversa. Costuma afetar o vocabulário e a gramática. É descrito como Transtorno de Linguagem Infantil no DSM-5.

    Uma criança com DEL pode apresentar alterações em habilidades de linguagem oral receptiva, expressiva ou ambas. A habilidade receptiva é a capacidade de receber e compreender o que o outro está falando. A habilidade expressiva é a capacidade de produzir a fala de forma a ser compreendida verbalmente por outro indivíduo. Essas alterações interferem de forma significativa no sucesso acadêmico, no desempenho profissional, na comunicação eficaz ou na socialização.

2) Quando desconfiar de DEL?

    Os pais ou familiares próximos são, geralmente, os primeiros a perceber que a criança tem dificuldade na linguagem oral.

    O DEL é um problema comum na infância e afeta mais meninos que meninas.

    As crianças podem mostrar pouca ou nenhuma vocalização, ausência de balbucios ao redor de 6 meses, demora na aquisição das primeiras palavras (depois de 2 anos) e dificuldade em falar pequenas frases (até os três anos), podem ter vocabulário restrito, apresentando dificuldade em aquisição de palavras novas, formando frases curtas e menos complexas, para sua idade.

    Também podem apresentar dificuldade em nomear objetos, animais, etc. Essas crianças podem mostrar ansiedade ao se comunicar devido à dificuldade em recordar palavras já conhecidas, em nomeação e em se fazer entender verbalmente por seus pares. Crianças maiores podem mostrar dificuldade em memorizar números de telefones, datas de eventos importantes, como seu dia de aniversário, sequências sonoras novas e dificuldade de contar uma história coerente.

 

 

3) Como é feito o diagnóstico de DEL?

    O diagnóstico de DEL envolve uma avaliação clínica minuciosa.

    Através da avaliação clínica foniátrica, o médico otorrinolaringologista com formação em foniatria, especialista em distúrbios da linguagem, fala e do aprendizado, pode contribuir de forma efetiva para este diagnóstico.

    Durante a avaliação é feita uma anamnese semi-dirigida com o indivíduo e familiares, avaliação de habilidades fundamentais para a adequada aquisição de linguagem, respeitando a fase neuromaturacional em que a criança se encontra, observação clínica de vários contextos (por exemplo relatórios escolares, terapias e situações de lazer), solicitações de exames específicos e testes padronizados de capacidade linguística, verificação da necessidade de outras avaliações específicas como genética, neuropsicológica, de processamento auditivo, etc.

     A história familiar de algum problema relacionado a linguagem, fala e aprendizado é frequente, ou seja, os transtornos de linguagem são herdados, mas os membros das famílias podem ter graus de manifestação diferentes.

 

 

4) Quando tratar o DEL?

    O tratamento deve ser iniciado assim que for definido o diagnóstico. O início da intervenção terapêutica adequada antes dos 3 anos de idade tem se mostrado eficaz, melhorando de forma satisfatória a aquisição de linguagem nestes pacientes, contribuindo inclusive com o sucesso no aprendizado escolar.

 

 

5) Quais são os fatores de pior resposta ao tratamento?

    Crianças com prejuízo na linguagem receptiva tem pior prognóstico do que aquelas em que se predominam dificuldades em linguagem expressiva. São mais resistentes ao tratamento e dificuldades de compreensão de leitura são frequentemente observadas.

 

6) Quais são os diagnósticos diferenciais?

    Outros distúrbios podem alterar o desenvolvimento da linguagem, tais como:

          - Deficiência auditiva (principal causa de dificuldades linguísticas)

          - Deficiência sensorial ou motora da fala.

          - Deficiência intelectual

          - Doenças neurológicas, como: afasias adquiridas, epilepsia, síndrome de Landau-Kleffner.

          - Transtorno do Espectro Autista (TEA)

 

7) Pode estar associado a outros problemas?

    Pode ocorrer associação de DEL e outros transtornos do neurodesenvolvimento como:

          - Transtorno específico aprendizagem (leitura, escrita e aritmética). 85% das crianças com dislexia tiveram               ou têm comprometimento na linguagem oral.

          - Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH)

          - Transtorno do espectro autista (TEA)

          - Transtorno do desenvolvimento da coordenação.

          - Transtorno social (pragmático).

Referência Bibliográfica:

DSM 5 (Manual de Diagnóstico e Estatístico de doenças Mentais).

Laurence B Leonard – Children with Specific Language Impairment

        Em maio/2018, a Dra Vanessa palestrou em um Congresso da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

          A criança com DEL (Distúrbio específico de linguagem) aprende a ler e a escrever?

          Este foi o tema da aula que ministrei no III Combined Meeting e Four Otology 2018. Esta aula fez parte de um painel sobre DEL, coordenado pela Dra Mariana Lopes Fávero. Um tema bastante relevante e estudado tamanho o impacto que o DEL pode ter no futuro de nossas crianças. 
          Tantas são as causas que podem levar uma criança a apresentar dificuldade em aprendizagem de leitura e escrita que este tema tem sido bastante estudado e discutido visando elucidar estas causas e ajudar as inúmeras crianças e famílias que sofrem com esta dificuldade.
          Para que o aprendizado da leitura e escrita se desenvolva é fundamental que hajam condições sociais e pedagógicas adequadas, integridade dos processos psicoemocionais, integridade das funções sensoriais periféricas do sistema nervoso, como audição e visão adequada ou tratada (seja com lentes refrativas em crianças com baixa acuidade visual ou aparelhos de amplificação sonora nos casos de crianças com perdas auditivas sensorioneurais) e inteligência adequada. 
          Com o avanço dos estudos em neurociências e o aprimoramento das técnicas de ressonância nuclear magnética funcional entre outras técnicas de exames que possibilitam a avaliação funcional do Sistema Nervoso Central (SNC), atualmente sabe-se que também é fundamental para o desenvolvimento do aprendizado da leitura e escrita a ativação integrada de múltiplas e complexas áreas do SNC. Estas áreas são responsáveis pela decodificação do código escrito, atribuição de um significado a este código e a contextualização do mesmo, em forma de palavra, dentro de um texto lido, durante este aprendizado. Estas inúmeras áreas do SNC são responsáveis por funções neurológicas fundamentais para a aquisição de leitura e escrita. E quais são estas funções? 
           As funções neurológicas corticais fundamentais para o desenvolvimento do aprendizado da leitura e escrita são: Percepção visual, através dela a criança consegue perceber e diferenciar visualmente cada letra de seu código escrito; Percepção auditiva, permite a diferenciação de sons verbais entre os diversos fonemas da língua nativa da criança, sons estes que muitas vezes apresentam diferenças muito sutis; Funções executivas, são funções neurológicas responsáveis por manutenção e alternância de atenção, inibição de ações prejudiciais ao aprendizado em detrimento de outras fundamentais a sua aquisição, mesmo que estas não sejam atrativas em um determinado momento. Estas funções incluem ainda os diversos tipos de memória que temos. São portanto fundamentais para a aquisição e armazenamento de novos conhecimentos.
          Além destas funções citadas acima estarem adequadas ao desenvolvimento da aprendizagem, ainda é necessário que haja integração das vias neurológicas sensoriais e motoras e capacidade de programação motora dos movimentos, tanto de órgãos fono-articulatórios responsáveis pela fala, como de coordenação motora fina importante na escrita. A função cortical responsável pela programação dos movimentos em um aprendizado é denominada praxia. As praxias portanto também são fundamentais para o desenvolvimento da leitura e escrita.
Portanto, a avaliação de uma criança que vem apresentando dificuldade de alfabetização, dificuldade de aprimoramento de leitura, dificuldade de compreensão de texto e/ou dificuldade de escrita, requer uma ampla avaliação de suas habilidades e funções corticais bem como a observação de fatores psíquicos, sociais, pedagógicos e familiares que possam estar influenciando nestas dificuldades. Desta forma, gostaria de salientar a importância da avaliação clinica foniátrica que tem o intuito não só de pontuar as habilidades deficitárias na criança em questão, mas também de orientar a família a melhor forma de superar estas dificuldades. A clinica foniátrica permite ainda que o médico otorrinolaringologista especialista em foniatria sirva de ponte para uma acompanhamento multi e interdisciplinar tão fundamental nestas crianças, haja vista a amplidão e complexidade de fatores envolvidos nestes casos. 
          Apenas com uma visão abrangente e multidisciplinar que observa e avalia a criança como um ser individual em toda sua complexidade, é possível diagnosticar as diversas alterações que levam a uma dificuldade de aprendizagem. A adequada condução destes casos podem levar nossas crianças a superarem sua dificuldades, ajudando a se tornarem cidadãos mais felizes e prósperos e contribuindo inclusive para o desenvolvimento social e econômico de nosso País.

Dra Vanessa Magosso Franchi
dravanessamf@gmail.com

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