TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade)
por Dra. Lilian Ishida Arai
1) O que é TDAH?
O TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que se inicia na infância e frequentemente continua por toda a vida e se caracteriza por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, presente em dois ou mais ambientes, que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento do indivíduo.
IMPORTANTE ressaltar que nem toda criança agitada, desatenta ou impulsiva tem TDAH. Existem critérios que precisam ser preenchidos para que o diagnóstico seja firmado.
2) Quais são os critérios de diagnóstico do TDAH?
Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):
A. Padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento e no desenvolvimento, conforme caracterizado por (1) e/ou (2)
1. DESATENÇÃO: seis (ou mais) dos seguintes sintomas por pelo menos seis meses:
a. frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades
b. frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas
c. frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente
d. frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho
e. frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades
f. frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado
g. frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades
h. com frequência é facilmente distraído por estímulos externos
i. com frequência é esquecido em relação a atividades cotidianas
2. HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE: seis (ou mais) dos seguintes sintomas por pelo menos seis meses
a. frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira
b. frequentemente levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado
c. frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado
d. com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente
e. com frequência "não para", agindo como se estivesse "com o motor ligado"
f. frequentemente fala demais
g. frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída
h. frequentemente tem dificuldade de esperar a sua vez
i. frequentemente interrompe ou se intromete
B. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estavam presentes antes dos 12 anos de idade
C. Vários sintomas de desatenção ou hiperatividade-impulsividade estão presentes em dois ou mais ambientes
D. Há evidências claras de que os sintomas interferem no funcionamento social, acadêmico ou profissional ou de que reduzem sua qualidade.
E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou outro transtorno psicótico ou transtorno mental
3) Ouvi dizer que o diagnóstico era feito baseado em uns questionários. O que são eles?
Para facilitar a avaliação, foram desenvolvidos questionários baseados nos critérios de diagnóstico do DSM-IV (a antiga versão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais). Eles podem ser respondidos pela família e pelo professor da escola. Esses questionários são apenas o ponto de partida. O diagnóstico deve ser realizado por médicos após uma extensa análise.
Segue o link do questionário SNAP - IV , disponibilizado pela ABDA (Associação Brasileira do Déficit de Atenção)
OBS: esse questionário serve apenas como base para avaliar o critério A (vide pergunta 2)
Para avaliar as respostas :
1) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 1 a 9 = existem mais sintomas de desatenção que o esperado numa criança ou adolescente.
2) se existem pelo menos 6 itens marcados como “BASTANTE” ou “DEMAIS” de 10 a 18 = existem mais sintomas de hiperatividade e impulsividade que o esperado numa criança ou adolescente.
4) Nos dias de hoje, as crianças são muito inquietas e agitadas. Isso significa que o TDAH é muito comum?
Levantamentos populacionais sugerem que o TDAH ocorre na maioria das culturas em cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos. Isso significa que existem diversas outras causas que explicam tantas crianças agitadas ou que não conseguem ficar concentradas em uma única atividade por um tempo maior.
5) O que acontece no cérebro da criança com TDAH?
Existe uma área no cérebro chamada de córtex pré-frontal, uma região muito mais desenvolvida no ser humano em comparação com outras espécies animais. É a região que coordena as funções executivas, que são as habilidades cognitivas que nos permitem controlar ou inibir e regular nossos pensamentos, emoções e ações diante dos conflitos ou distrações, tornando-nos capazes de prestar atenção, ter autocontrole, memória, organização e planejamento.
Nas crianças com TDAH ocorre alteração nessa região frontal e suas conexões. Estudos correlacionam essas conexões inclusive para a região do núcleo caudado, área que faz parte do sistema límbico que é relacionado às emoções.
Para que o estímulo elétrico se transmita de uma célula nervosa (neurônio) para outra, há necessidade de um sistema de liberação de substâncias químicas, os chamados de neurotransmissores. No TDAH parece haver um desequilíbrio nesse sistema, principalmente na dopamina e noradrenalina
6) Quais são as causas do TDAH?
Existem muitas pesquisas, sendo as mais prováveis:
- Hereditariedade: os genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em si, mas por uma predisposição ao TDAH.
- Substâncias ingeridas na gravidez: parece haver correlação de alterações no desenvolvimento da região pré-frontal no cérebro de bebês cujas mães fumaram ou fizeram uso de álcool durante a gravidez.
- sofrimento fetal
- exposição a chumbo
- outras
7) TDAH tem cura?
O TDAH não é considerado uma doença, e sim, um transtorno. Assim sendo, não existe cura propriamente dita, mas tratamento. O tratamento deve ser multimodal, uma combinação de medicamentos, orientação aos pais e professores e diversos tipos de terapias.
Existem diferentes tipos de terapias de acordo com as dificuldades apresentadas: terapia comportamental, terapia cognitiva, terapia cognitivo-comportamental, treinamento de habilidades sociais, terapia psicopedagógica, terapia fonoaudiológica, entre outras.
Na maioria dos casos, faz-se necessário o uso de medicação.
É fundamental o apoio da família e da escola, criando um ambiente mais favorável, buscando recursos que facilitem um desenvolvimento mais adequado e adaptado às características individuais.
A criança com TDAH tem direito às medidas de inclusão escolar.
8) ABSURDO! EU NÃO QUERO USAR REMÉDIO PARA DOPAR O MEU FILHO!!!!
Como explicado acima, no TDAH existe um transtorno neurobiológico, ocorrendo um desbalanço de neurotransmissores. Para que haja um melhor funcionamento nas transmissões dos estímulos elétricos entre os neurônios, é necessário haver um equilíbrio dessas substâncias químicas.
Na verdade, da mesma forma que é um erro usar medicação para controlar a agitação de crianças que NÃO apresentam TDAH, também é errado não medicá-la apenas por um pré-conceito de que a medicação serve para "dopar" a criança.
Muitas vezes, ajustar a medicação não é fácil e se leva algum tempo até a visualização de bons resultados.
9) O TDAH ocorre mais em meninos ou em meninas?
O TDAH é mais frequente no sexo masculino do que no feminino, com uma proporção de cerca de 2:1 nas crianças. Na verdade, as meninas manifestam mais o déficit de atenção do que a hiperatividade, ficando mais difícil fazer o diagnóstico. Muitas vezes o diagnóstico só é realizado quando ela manifesta baixo rendimento escolar.
10) Existem outros diagnósticos para uma criança muito agitada?
Sim. Principalmente nos dias de hoje, muitas crianças com aparente hiperatividade, na verdade são frutos da forma como foram criadas, seja por falta de limites e disciplina, hiperestimulação, abuso de cafeína (especialmente presente em chocolates e refrigerantes), etc.
Existem vários diagnósticos diferenciais a serem considerados: TOD (Transtorno de oposição desafiante), transtorno específico de aprendizagem, TEA, deficiência intelectual, transtorno de ansiedade, transtorno depressivo, transtorno bipolar e outros.
Também pode ocorrer a comorbidade, ou seja, ocorrer concomitantemente com outros transtornos, como por exemplo com TOD, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), transtorno de tique, TEA, transtorno de ansiedade/depressivo, etc.
Portanto, é FUNDAMENTAL uma avaliação minuciosa de médico especializado no diagnóstico desse transtorno.
BIBLIOGRAFIA:
- DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais)
- Associação Brasileira de Déficit Atenção - ABDA
- Manual Clínico do Transtorno Do Déficit de Atenção / Hiperatividade - Ana G Hounie, Walter Camargos Jr