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Transtornos do Neurodesenvolvimento

     por Dra. Lilian Ishida Arai

O garoto vem mostrar todo orgulhoso o cachorrinho que ganhou:

- Olha, quer ver uma coisa? Eu ensinei meu cachorro a falar! Quer ver?

Então ele vira para o seu cãozinho e fala:

- Vamos Rex, fale "BOM DIA"!

- Isso mesmo, fale: "BOM DIA"!

Bem, obviamente o cachorro só fez "AUAU".

Todos olham debochando, então ele fala:

- Do que vocês estão rindo? Eu falei que ENSINEI falar! Não disse que ele aprendeu!

Pois é!

Apenas uma reflexão sobre ENSINO e APRENDIZAGEM!

 

 

          A tríade básica em que se fundamenta uma boa educação vem da relação ALUNO-FAMÍLIA-ESCOLA. Se algo não evolui bem, é preciso envolver essa tríade em uma rede de atenção onde o médico (pediatra, otorrinolaringologista ou foniatra, oftalmologista, psiquiatra, neuropediatra e outros), juntamente com a fonoaudióloga, psicóloga, psicopedagoga, neuropsicóloga, psicomotricista e professores, orientadores educacionais, coordenadores pedagógicos possam agir conjuntamente.

           Existem crianças que apresentam dificuldade  na aprendizagem decorrentes de fatores pedagógicos, familiares, sócio-econômicos, psicológicos, nutricionais, problemas auditivos, visuais e outras patologias, tais como câncer, tumores ou malformação neurológica, doenças sistêmicas ou degenerativas, doenças mentais, etc, que  podem levar a um prejuízo na aprendizagem. No entanto, abordaremos agora apenas os transtornos de neurodesenvolvimento. 

          Existe um padrão de desenvolvimento normal da criança, ou seja, todas devem alcançar alguns marcos de desenvolvimento neuropsicomotor em idades específicas. Quando isso não ocorre, provavelmente existe alguma causa em que há necessidade de se intervir.

          As informações abaixo foram extraídas do DSM-V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):

Os transtornos do neurodesenvolvimento são um grupo de condições com  início no período do desenvolvimento. Os transtornos tipicamente se manifestam cedo no desenvolvimento, em geral antes de a criança ingressar na escola, sendo caracterizados por déficits no desenvolvimento que acarretam prejuízos no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os déficits de desenvolvimento variam desde limitações muito específicas na aprendizagem ou no controle de funções executivas até prejuízos globais em habilidades sociais ou inteligência.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

1) DEFICIÊNCIA INTELECTUAL: Transtorno do Desenvolvimento Intelectual

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Deficiência intelectual é um transtorno com início no período do desenvolvimento que inclui déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático.

Os vários níveis de gravidade são definidos com base no funcionamento adaptativo, e não em scores de QI, uma vez que é o funcionamento adaptativo que determina o nível de apoio necessário.

O Atraso Global do Desenvolvimento, como o nome implica, é diagnosticado quando um indivíduo não atinge os marcos do desenvolvimento esperados em várias áreas do funcionamento intelectual.

A deficiência intelectual tem uma prevalência geral na população como um todo de cerca de 1%, com variações em decorrência da idade. A prevalência de deficiência intelectual grave é de cerca de 6 por 1.000.

 

2) TRANSTORNOS DA COMUNICAÇÃO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os transtornos da comunicação incluem déficits na linguagem, na fala e na comunicação. Esses déficits ficam evidentes na comunicação falada, escrita ou na linguagem de sinais.

A aprendizagem e o uso da linguagem dependem de habilidades receptivas e expressivas. Capacidade expressiva refere-se à produção de sinais vocálicos, gestuais ou verbais, enquanto capacidade receptiva refere-se ao processo de receber e compreender mensagens linguísticas.

 

(Segundo o DSM-4,  3 -5 % das crianças podem ser afetadas pelo Transtorno da Linguagem Expressiva e 3% das crianças em idade escolar apresentam Transtorno da Linguagem Receptivo-expressiva)

 

 

3) TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

As características essenciais do transtorno do espectro autista são prejuízo persistente na comunicação social recíproca e na interação social (Critério A) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (Critério B). Esses sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário (Critérios C e D).

Em anos recentes, as frequências relatadas de transtorno do espectro autista, nos Estados Unidos e em outros países, alcançaram 1% da população. (OBS: segundo outros estudos, essa prevalência chega a 1/59)

 


4) TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERATIVIDADE

A característica essencial do transtorno do déficit de atenção/hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento.

Levantamentos populacionais sugerem que o TDAH ocorre na maioria das culturas em cerca de 5% das crianças e 2,5% dos adultos

 

 

5) TRANSTORNO ESPECÍFICO DA APRENDIZAGEM

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O transtorno específico da aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com uma origem biológica que é a base das anormalidades no nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica inclui uma interação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que influenciam a capacidade do cérebro para perceber ou processar informações verbais ou não verbais com eficiência e exatidão. 

A prevalência do transtorno específico da aprendizagem nos domínios acadêmicos da leitura, escrita e matemática é de 5 a 15% entre crianças em idade escolar, em diferentes idiomas e culturas. Nos adultos, a prevalência é desconhecida, mas parece ser de aproximadamente 4%.

 

 

6) TRANSTORNOS MOTORES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A aquisição e a execução de habilidades motoras coordenadas estão substancialmente abaixo do esperado considerando-se a idade cronológica do indivíduo e a oportunidade de aprender e usar a habilidade e esse déficit interfere significativa e persistentemente nas atividades cotidianas apropriadas à idade cronológica.

A prevalência do transtorno do desenvolvimento da coordenação em crianças com 5 a 11 anos de idade fica entre 5 e 6% . 

 

 

           

           Enfim, essas são as crianças com rebaixamento intelectual, que atrasam para falar ou não compreendem bem o que é falado (DEL: distúrbio específico de linguagem), autistas, com TDAH, dislexia ou discalculia, com déficits motores ou tiques, entre outras. Infelizmente, não existe “cura”, mas com o tratamento, em geral através de diversos tipos de terapias, conseguimos alcançar grande melhora no desempenho dessa criança.

          Como existe muita comorbidade, ou seja, uma criança pode apresentar mais do que um transtorno, é difícil precisar o acometimento dos transtornos de neurodesenvolvimento. Estima-se que 20% (!!!) das crianças apresentam dificuldades decorrentes dessas alterações neurobiológicas. 

          Com as políticas de inclusão, essas crianças adquiriram alguns direitos, como por exemplo: assento preferencial, prova em sala separada com enunciados mais simples e maior tempo para realização, profissionais de apoio, etc.

          A criança com dificuldades na aprendizagem precisa ser bem avaliada. Seu baixo desempenho pode ser devido a diversas causas, desde déficits pedagógicos e ambientais, a questões psicológicas ou doenças orgânicas. Algumas apresentam o transtorno de neurodesenvolvimento que é uma condição inerente à criança, ou seja, essa é a forma que seu cérebro funciona. Assim sendo, é preciso um olhar da família, da escola e dos terapeutas no sentido de estimular ao máximo todo seu potencial para que a criança se desenvolva da melhor forma, mas respeitando e entendendo quem ela é, e, acima de tudo, respeitando seus limites. 

          O grande desafio é conciliar todas as terapias, aulas de reforço e recuperação, com uma infância feliz, com tempo e direito de brincar, que toda criança deveria ter.

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